Não identificado

Não sei delimitar temporalmente quando foi que comecei a gostar de Gal Costa, só sei que não há música que eu não prefira em sua voz. A que escolhi para este post é Não identificado, gravada quase em 70. Escolhi porque é doce e singela. E porque não lembro quando não estive apaixonada a não ser o dia em que redescobri esta música. Estava num limbo sentimental inédito, de cacos recolhidos, e tremendamente Gal. Ouvia sem parar, de modo aleatório, de doces bárbaros, à profana e canções de novela. De desejar cachos, de abusar das cores, de amar meu colo e meus ombros e pintar bem a boca. Nada mais clichê do que o momento eu comigo e eu mesma. Só que eu realmente não conhecia este episódio da vida ou passei batido. Pode acontecer. Há quem afirme de pés juntos ou muita teoria que é essencial estar sozinha para se conhecer. Comigo pouco aconteceu. Pode chamar de acaso, de alinhamento astrológico ou sorte. Eu chamo de sorte, por enquanto. Acho que soube mais de mim pelo outro do que sozinha.

Eu vou fazer uma canção pra ela
Uma canção singela, brasileira
Para lançar depois do carnaval

Eu vou fazer um iê-iê-iê romântico
Um anticomputador sentimental

Não identificado serviu direitinho naquele dia; inofensiva e delicada, sem remeter a nada ou ninguém. Podia até ser uma canção pra mim, oras. E no dia em que não estava apaixonada, compartilhei para aquela audiência de paredes numa quase madrugada qualquer. Alguém respondeu. Mal o disco virou e já estava apaixonada de novo.

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